sexta-feira, 4 de junho de 2010

PONDO OS PÉS NO CHÃO

Orar é estar com Deus. Toda vez que você está consciente da presença de Deus, você está orando. As pessoas mais comuns, através dos tempos, dizem que a recomendação do apóstolo Paulo, "orar sem cessar", é exequível.1 Dizia–se de São Francisco que ele "parecia menos um homem orando do que a própria oração encarnada". (Caso duvide, acredite, São Francisco era, sim, um homem comum.)
O Irmão Lourenço, autor do clássico devocional A prática da presença de Deus, ponta que, ao chegar ao monastério, foi enviado a trabalhar na cozinha, o que lhe causou grande decepção, pois imaginava que se dedicaria o tempo todo à oração. Mas isso lhe rendeu o título de "senhor de todos os caldeirões e panelas" e lhe serviu como porta de acesso a uma das mais extraordinárias experiências de intimidade com Deus. Testemunhou sua experiência dizendo que "a hora dos negócios não difere para mim da hora de oração; e no barulho e alarido da minha cozinha, enquanto diversas pessoas ao mesmo tempo pedem coisas diferentes, possuo a Deus em tão grande tranquilidade como se estivesse de joelhos para o bendito sacramento". Ele de fato acreditava que "não existe um modo de vida no mundo mais agradável e mais cheio de deleite do que a conversação contínua com Deus". Foi ele quem nos recomendou "fazer do coração uma capela". É bem verdade que o irmão Lourenço admite ter levado pelo menos dez anos para aprender a orar sem cessar, mas isso só prova que é mesmo possível.
Creio, como Thomas Kelly sugere, que é possível "ordenai a nossa vida mental em mais de um nível ao mesmo tempo. Em um nível podemos estar pensando, discutindo, vendo, calculando, satisfazendo todas as exi¬gências de afazeres externos. Mas, muito no fundo, por trás das cenas, num nível mais profundo, podemos também estar em oração e adoração". Confesso que ainda não cheguei lá. Mas conheço pessoas cujo semblante demonstra tal serenidade e alegria perenes que chego a desconfiar que descobriram esse segredo. Por enquanto, minhas orações ainda estão na categoria das conversações. Cabem dentro de ocasiões específicas que separo para "entrar na presença de Deus", estabelecer conexão, entrar num momento divino. De vez em quando, sou surpreendido por Deus. Algo como ser tomado por um senso de presença que não me deixa dúvidas de que de alguma maneira "penetrei" em Deus ou, melhor dizendo, ele se deixou penetrar por mim. Mas isso é raro, quase nunca depende de mim, e jamais consigo planejar que aconteça. O que consigo planejar são meus períodos de oração.

Vivendo com propósitos - Ed René Kivitz p.109

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