sábado, 17 de outubro de 2009
SOLIDARIEDADE: Sinal da verdadeira comunhão.
O apóstolo Paulo mostrou muito interesse pela situação econômica entre o povo de Deus. Sider (1984, p.108) diz que “Ele dedicou um bom tempo a ajuntar dinheiro para os Cristãos judeus, nas congregações gentílicas. Nesse processo, ele promoveu o desenvolvimento da assistência intraeclesiástica dentro da igreja local”. Sendo este um exemplo a ser seguido por todas as outras comunidades dos novos seguidores de Cristo espalhados pela Palestina.
Atos 11:29-30 diz que no período do reinado de Cláudio César houve uma grande fome em todo o mundo, e a igreja de Jerusalém estava passando por grandes dificuldades. Logo se percebe a solidariedade dos discípulos da igreja de Antioquia que, ao saberem das dificuldades de seus irmãos em Jerusalém cada um enviou, conforme suas posses, ajuda para os socorrer. Paulo ajudou Barnabé a levar essa assistência econômica de Antioquia para Jerusalém. Portanto, tanto os crentes da Macedônia, quanto os de Jerusalém estavam passando por algumas perseguições e, mesmo diante das dificuldades, a igreja da Macedônia não se sentiu impedida de ajudar os irmãos em Jerusalém, mas socorreu-os com uma atitude generosa para com suas necessidades. Com esse mesmo espírito de generosidade é que Paulo solicita a solidariedade dos da igreja de Corinto para que ajudem os irmãos de Jerusalém (I Coríntios 16: 1-2).
A situação dos menos favorecidos no corpo de Cristo foi uma das preocupações do seu ministério. Sider (1984, p.110 -111) comenta que, “Para Paulo, a íntima comunhão no corpo de Cristo traz consigo implicações econômicas concretas. Compartilhar os recursos econômicos era uma parte obvia e fundamental da comunhão cristã”
Concernente à contribuição financeira na comunidade dos crentes o esclarecimento de Paulo era de âmbito geral: Contribua com aquilo que você pode dar de acordo com sua “prosperidade” (I Coríntios 16:2). O apóstolo elogiou os Macedônios por sua oferta generosa, pois eles deram além das suas possibilidades (II Coríntios 8:2-3). Porquanto dar voluntariamente o quanto puder é o padrão de Paulo para a igreja, pois era de seu desejo que houvesse um equilíbrio econômico entre os santos.
Mas não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão; mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade; como está escrito: O que muito colheu não teve de mais; e o que pouco, não teve de menos (II Coríntios 8:13-15).
Percebe-se, então, que era da vontade de Paulo que existisse uma igualdade entre os cristãos. A recomendação do apóstolo aos Coríntios era que pelo fato deles estarem em condições financeiras superiores, deviam socorrer os irmãos cristãos em Jerusalém De modo semelhante, se no futuro as circunstâncias mudassem e as posições se invertessem, que a abundância daqueles viessem a suprir as desses. Portanto, é dos que se encontram em situações privilegiadas que Paulo espera que venha o socorro aos mais necessitados. Conseqüentemente, é indispensável que aqueles que possuem em abundância atendam as necessidades dos que têm falta de recurso.
Os ensinos bíblicos concernentes aos novos relacionamentos econômicos entre o povo de Deus, desenvolveram na igreja primitiva um zelo ardente pelo pobre que surpreendia a todos.
O filósofo cristão Aristides, ao descrever sobre o fenômeno econômico que acontecia na igreja diz:
Eles andam em humildade e bondade; não existe falsidade entre eles; amam uns aos outros. Não desprezam as viúvas, nem molestam o órfão. Aquele que tem dá liberalmente para o que não tem. Se encontram um estrangeiro, logo dão acolhida e se alegram com ele como se fosse um irmão: porque entre eles se chamam de irmãos, não na carne, mas no espírito, em Deus. Quando um dos seus pobres passa deste mundo e um deles é informado, logo toma providências para o seu sepultamento, conforme estiver ao seu alcance. E se ouvem que alguém dentre eles é preso ou oprimido por causa do nome do seu Messias, todos providenciam para as suas necessidades; e, se é possível que seja posto em liberdade, esforçam-se por consegui-lo Se há alguém entre eles pobre e necessitado, não tendo em abundância o de que necessita, jejuam dois ou três dias pra suprirem-no com o alimento de que precisa. ( apud FINI, 1982, P113).
O grande zelo de Paulo pelos pobres é expresso em todas as suas cartas nas quais ele chama à responsabilidade, tanto a igreja como as pessoas individualmente, para com os menos favorecidos. Desafiando os novos convertidos a seguirem o seu exemplo: “aquele que furtava não furte mais; antes trabalhe” para que com o fruto do trabalho honesto, “tenha o que repartir com o que tiver necessidade” (Efésios 4:28), e que os pobres não sejam negligenciados (Gálatas 2:10), todos devem repartir os seus bens, e que a prática de “fazer o bem”, não cesse, porque a recompensa a seu tempo virá; por isso enquanto se tem “tempo” deve-se “fazer o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gálatas 6:10). Tudo deve ser feito com [...] humildade, visando proporcionar o seu bem, como também de seu próximo, “de sorte que haja em vós o mesmo sentimento que ouve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2:3-5), e que quanto a tudo o que se fizer, seja “por palavras ou por obras”, fazei-o de todo o coração como ao Senhor Jesus, “dando por ele graças a Deus Pai” (Colossenses 3:17, 24). Aos que querem ser ricos, Paulo exorta-os quanto ao perigo de caírem na tentação, pois “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Timóteo é exortado a fugir de tal ambição, mas aos ricos Paulo aconselha-os que não coloquem sua “esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, e que façam o bem, enriqueçam em boas obras, e repartam de boa mente e sejam comunicáveis” (I Timóteo 6: 10,11, 16-18).
Paulo escreve que a “fé atua pelo amor” ( Gl 5:6 ); Tiago escreve: “Eu lhes mostrarei a minha fé pelas minhas obras”(Tg 2:18 ); e João diz que o amor de Deus em nós transbordara em serviço aos nossos irmãos necessitados(1 Jo. 3:16-18 ). Do mesmo modo através do evangelho nós somos “criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou, a fim de que andássemos nelas” (Ef 2: 20 ). As boas obras não salvam, mas são uma evidência indispensável da salvação ( Tg. 2 : 14 – 26 ) (LAUSANNE 2, 1983, p. 26 ).
Ao escrever a Tito o apóstolo Paulo recomenda-lhe que deve insistir com os cretenses, aqueles que crêem em Deus a habituarem-se a uma vida de “ boas obras” para não se tornarem infrutíferos, porque “estas coisas são boas e proveitosas aos homens” ( Tito 3: 8,14). Paulo enfatiza que “boas obras” são o resultado da conversão do crente e da sua vida no Espírito Santo (Tito3: 4-8 ). O crente deve ser “exemplo de boas obras” ( 2:7 ), “zeloso de boas obras” ( 2:14 ) “preparado para toda boa obra” ( 3:1 ) e deve procurar “aplicar-se às boas obras (3:8 ). Pois “a fé sem obras é morta” (Tiago 2: 26 ). Portanto, a “religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas na suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tiago 1:27).
Os cristãos foram incentivados à prática de misericórdia diante das circunstâncias que se apresentavam. Tiago diz:que “Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre voz lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?” (Tiago 2: 15,16). “Os primeiros cristãos mostraram a verdadeira compaixão e misericórdia” (Nascimento Filho, 1999, p. 56).
Conclui-se que, tanto na nova comunidade que se formou em Jerusalém quanto no ministério de Paulo, a prestação do serviço solidário aos pobres foi um dos marcos dessa nova comunidade, que viveu os valores do reino, cumprindo, assim, o mandamento de Jesus Cristo de amar seu próximo como a si mesmo, transformando, assim, o amor ao próximo numa ação concreta, não por imposição, mas a partir de uma iniciativa de quem verdadeiramente recebeu um novo coração.
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