quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O orador e o assunto

Do livro 7 leis do aprendizado:

Quando o assunto é seu ponto forte, seus alunos poderão chamá-lo de erudito, “cabeça”, “crânio”. Você tem prazer em pensar no assunto, e se aproxima mais do mundo das idéias e dos pensamentos do que de seus alunos (e certamente mais do que de todos aqueles métodos criativos que para você parecem pura perda de tempo). Você gosta das fontes originais, e sempre ficou “grilado” por não dominar o grego e o hebraico, o latim e o alemão, para poder “ir mais fundo”.


Seus alunos o enxergam como uma pessoa muito inteligente, que sabe muito sobre vários assuntos. Gostam de ouvir suas respostas às dúvidas que têm, porque você sempre se faz entender – e isso mais freqüentemente no período de perguntas e respostas do que durante a aula propriamente dita. Seus alunos, provavelmente, pensam que você espera muito deles e que ensina muita coisa desnecessária, mas você parece considerar tudo importante. Ninguém jamais acha que não está aprendendo sua matéria, mas alguns têm que se “desdobrar” para poder acompanhar sua aula.


Na faculdade teológica, tive um professor que era um erudito clássico. Na segunda aula do semestre, um aluno levantou a mão e pediu mais informações acerca de algo que parecia um detalhe sem importância. Alguns de meus colegas trocaram aquele olhar de descontentamento ao ouvirem a pergunta, e nenhum de nós sequer suspeitava que o professor responderia com mais do que uma frase.


Até hoje, passados vários anos, ainda estou admirado com a resposta do professor. Ele acenou com a cabeça, como se a pergunta fosse tremendamente perspicaz, olhou para um canto do teto, envolveu o polegar com os demais dedos e colocou a mão na testa. Em seguida, começou a citar livros onde se poderia encontrar uma resposta e continuou:


“Volume 2, pagina 246, no canto esquerdo da coluna da direita, mais ou menos umas 7 ou 8 linhas do inicio do parágrafo.”


Aí fechou os olhos e citou de cor cerca de três ou quatro parágrafos sobre o assunto.


A principio pensei tratar-se de uma piada pratica, por isso, no primeiro intervalo, corri para a biblioteca, procurei o volume 2 e fui à pagina mencionada. Fiquei abismado de ver que ele citara o texto palavra por palavra!


Exceto em suas ocasionais incursões nos recessos mais íntimos da teologia, quando ele começava a citar as fontes originais em alemão, todos nós logo nos vimos apreciando profundamente esse professor, e ele nos fez alcançar novas fronteiras do saber. Foi uma das experiências de aprendizagem mais memoráveis da minha vida.


Mas tais pontos fortes costumam ter suas contraposições. Esse mesmo erudito nos contou que certa vez foi a Houston fazer uma conferencia num final de semana. Depois tomou o avião de volta para Dallas, esperando que sua esposa o apanhasse no aeroporto. Após uma hora de espera, telefonou para casa, para saber se ela o esquecera.


- Onde é que você está? perguntou ela.


- No aeroporto de Dallas, é claro, respondeu ele. E onde é que você está?


- Eu estou em casa, replicou ela, esperando você.


Aí houve aquele silencio prolongado, que anunciava que havia alguma coisa errada.


- Querido, você se esqueceu? Você foi para Houston de carro!


Quem é mais fraco no relacionamento com o assunto, provavelmente se sente meio inseguro acerca do conteúdo e depende muito das anotações. Quando um aluno levanta a mão com uma pergunta, você morre por dentro e responde que falará com ele no intervalo, pois tem certeza que não sabe a resposta. Mas não quer que ninguém saiba que você não sabe. Aí você ora intensamente, pedindo que aquele aluno esqueça a pergunta, até na hora do intervalo. Provavelmente, também acha mais fácil seguir um esboço de outra pessoa, pois ele parece bem melhor que o seu, e mesmo assim, jamais se sente seguro de ter um bom conteúdo.



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