A vida nem sempre nos trata como desejamos. O mundo é injusto. As tragédias e calamidades não escolhem a quem tentar destruir. De quando em vez, nada mais coerente do que estar com o estado de espírito perturbado.
Uma das mais intrigantes passagens da vida de Jesus aconteceu às portas do túmulo de Lázaro, seu amigo, narrada no Evangelho de João, capítulo 11. Na verdade, a notícia de que Lázaro estava gravemente enferrno chegara quatro dias antes, com as palavras: "Aquele a quem tu amas está à morte". Jesus não se abalou com a notícia nem alterou seus planos imediatos, pois tinha propósitos muito mais elevados do que a simples cura física de um amigo. Ao chegar à casa de Lázaro, recebe a notícia de que ele estava morto havia quatro dias. Nesse momento, chora. Mas por que chora? Aliás, parece mesmo contraditório que Jesus, sabendo que res¬suscitaria Lázaro dali a poucos minutos, se entregasse às lágrimas e se deixasse invadir por sentimentos, para a maioria de nós, indesejados.
Mas acredito em outra possível leitura do evento. O fato de que Lázaro voltaria à vida em poucos minutos não anulava a realidade de que, naquele exato momento, estava morto. Diante de um amigo morto e rodeado de pessoas desesperadas, nada mais coerente do que sentir o espírito perturbado, no mínimo, por solidariedade e empatia. Jesus vivia um momento de cada vez. Aquele era um momento de morte, desespero e desesperança. Jesus chorou com elas, chorou por elas e por ele mesmo, quem sabe.
Nada mais natural do que o pranto no momento do luto, a angústia na situação de fome, o medo no meio da guerra, enfim, a cara contorcida no momento em que a vida mostra–se amarga. Isso significa que nem todas as pessoas que vivem com um estado de espírito perturbado são responsáveis pelas causas que geraram a perturbação. Os profetas da auto–ajuda dizem que a causa do sofrimento não é o mundo, e sim nossa atitude diante dele. Mas nem sempre o estado de espírito perturbado começa do lado de dentro do coração. Não raras vezes, resulta de circunstâncias adversas, variáveis fora do controle de mortais como nós. O mundo não obedece à justiça retributiva: coisas boas para pessoas boas, coisas ruins para pessoas ruins. Até porque ninguém é totalmente mal. E ninguém é totalmente bom. Assim também o mundo e a vida. A história, que tem como protagonistas pessoas em quem o bem e o mal se misturam e se confundem, não poderia ser tão exata. Por essa razão, de vez em quando acontecem coisas ruins para pessoas boas, coisas boas para pessoas ruins, e ninguém se surpreende mais quando acontecem coisas ruins para todo mundo.
Portanto, o melhor que temos a fazer é repetir a conduta do poeta bíblico. Ao menor sinal de perturbação, devemos perguntar: "Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim?". Não serão poucas as ocasiões em que ficaremos surpresos quando a alma nos oferecer suas razões. Nessas horas, sentar e chorar é um ótimo remédio. Afinal, quando a dor é real e as causas podem ser claramente identificadas, a lágrima é a menor distância do sorriso.
Mas além dos excessos e das circunstâncias da vida, nosso estado de espíri¬to perturbado é influenciado também por nossas características pessoais, isto é, o conjunto de filtros herdados ou aprendidos por meio dos quais interagimos com o mundo. Praticamente todas as nossas posturas na vida podem ser explicadas pelo mix personalidade–cultura–ambiente social. Poucas são as pessoas que conseguem estourar essa bolha e caminhar em direção à transformação pessoal e à contracultura, impondo sua identidade própria e assumindo suas preferências independentemente da última moda.
Por exemplo, pessoas que cresceram num ambiente de cobranças e de exigências exageradas acabam desenvolvendo um general dentro de sua consciência e sofrem de um perfeccionismo doentio, enquanto outras são mais complacentes, displicentes e até mesmo irresponsáveis. É evidente que cada uma reage ao atraso em uma reunião importante ou à demora na entrega de uma encomenda de maneira diferente. Há pessoas que se incomodam com outras pessoas, enquanto outras se incomodam com coisas. Podemos encontrar gente que fica insuportável quando não dorme o suficiente, e outros que se transformam quando estão com fome. O fato é que, se há dez pessoas vivendo a mesma situação, provavelmente haverá dez reações diferentes.
O grau de maturidade pessoal também afeta radicalmente o estado de espírito. Os motivos considerados suficientes para experimentar alegria e dissabor variam de pessoa para pessoa, e isso está relacionado com os valo-res e até mesmo com o caráter. Uma criança chora quando cai seu sorvete, atitude que não se espera de um adulto. Por outro lado, é comum ouvir crianças perguntando: — Por que a mamãe está chorando? Demonstram, assim, sua incapacidade de discernir a dor para todos evidente. Há pessoas que não conseguem dormir porque atrasaram o pagamento do aluguel, enquanto outras não perdem o sono mesmo devendo meses de cartão de crédito. O estado de espírito perturbado pode ser explicado pela escala de valores de uma pessoa e pela maneira como se vê responsável diante do direito de viver.
Mas além de todas essas limitações herdadas e ou desenvolvidas, tal¬vez o maior fator de distinção na maneira como as pessoas reagem à vida é a fé. A fé percebe uma Presença, a presença de Deus. A fé invoca uma Presença, a presença de Deus. A fé sabe que, por trás do cenário visível, das estatísticas e das probabilidades, existe Alguém interagindo na situação:
Deus. Os recursos humanos resultantes da fé são ainda um mistério para a ciência. Quem é capaz de exercitar a fé vê mais longe, voa mais alto, chega mais adiante.
Ed René - Vivendo com propósitos
Thanks for leaving me a comment and blessing me with your visit! Oh how I wish I could read Spanish better! Blessings and grace, Jill
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